Oportunidade

domingo, 14 de junho de 2009

Armadilhas (da política)

Armadilhas
Como tudo o que se refere à Amazônia, a medida provisória 458, aprovada no Congresso para permitir a regularização da posse da terra na região, é motivo de intensa polêmica, e divide o governo diante da reivindicação de ambientalistas para que Lula a vete em parte — o que ele, na quarta-feira, disse que fará.
Só não há divergência sobre a importância da MP, pois, de fato, sem a formalização do direito de propriedade, será impossível aplicar qualquer política preservacionista na Amazônia, por melhor que seja.
Se ela continuar como uma gigantesca terra de ninguém, a exploração predatória será a regra: desmatamento indiscriminado, queimada, pastagem para gado, degradação do solo e, por fim, seu abandono. Como só 4% das terras controladas por particulares têm titulação efetiva, pode-se ter uma ideia da gravidade do problema.
Ao chegar ao Congresso, a MP, como seria inevitável, começou a sofrer alterações ao sabor dos choques entre as bancadas ruralistas, de ambientalistas e respectivos aliados. Alterações feitas a partir de propostas de ruralistas — à frente a senadora Katia Abreu (DEM-TO), relatora da MP — sobre o tamanho de módulos a serem legalizados, tratamento dado a propriedades de pessoas jurídicas e tempo exigido para a posterior negociação da terra são bombardeadas por ONGs e representantes de ambientalistas. A senadora Marina Silva (PT-AC) acredita que a MP, como foi aprovada, ajuda grileiros. Seu sucessor no Ministério do Meio Ambiente, Carlos Minc, concorda e pede vetos na "MP da Grilhagem".
É verdade que a ação do lobby ruralista pode contrabandear para leis dispositivos indesejáveis do ponto de vista da necessidade de a floresta ser preservada, não como um jardim botânico, mas dentro de um modelo de exploração racional. E isto só será atingido quando a preservação da árvore for mais rentável que sua transformação em pranchas ou carvão. Mas, na outra bancada, também há excessos preocupantes.
O ministro do Planejamento Estratégico, Mangabeira Unger, que decidiu tratar da Amazônia em sua Pasta, critica o fato de a região funcionar como uma “fantasia ideológica” de certa esquerda. Daí surgem preconceitos contra a empresa agropecuária capitalista, contra tudo que tenha grandes dimensões: terras, cultivos, negócios. É sintomático que o Ibama tenha retirado da lista de desmatadores amazônicos os assentamentos do Incra, contumazes devastadores, por falta de opções.
Mas como são “pequenos”, reza a ideologia vigente em Brasília, eles precisam ser preservados, e não a floresta. Antes de aplicar os vetos, Lula deveria reexaminar a MP, sem cair nas armadilhas do politicamente correto.

Editorial de O GLOBO de 14/6/2009

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